quinta-feira, novembro 08, 2007

[Música, séries] Breve História do Jazz (10) - Nasce uma estrela



Louis Amstrong talvez seja o mais influente músico de jazz de todos os tempos. Com a sua chegada termina a era do estilo conhecido como “Diexland” – o das bandas de Nova Orleans – e se inicia a época da afirmação do músico solista. O jazz até então era uma arte coletiva que com o aparecimento de Amstrong, adquire “personalidades próprias”.
Seu estilo de cantar é a matriz vocal onde Billie Holiday, Frank Sinatra e uma centena de intérpretes tiveram influência; seu jeito de tocar – improvisado valorizando além do caráter melódico do instrumento, seu aspecto rítmico – revolucionou o entorno musical dos anos 20. É muito comum que as novas gerações de admiradores do jazz confundam sua imagem pública – era assumidamente mediático – e desvalorizem suas verdadeiras contribuições ao jazz.
Louis nasceu em Storyville – o “ bairro da luz vermelha” de Nova Orleans – e foi abandonado pelo pai logo quando nasceu. Sua mãe exercia a prostituição e deixou o pequeno aos cuidados da avó. Aos 7 anos o menino já trabalhava vendendo carvão para as prostitutas do bairro. Depois de alguns indícios de comportamento delitivo, Louis foi mandado a um reformatório e segundo ele mesmo em sua biografia, “foi a melhor coisa que me poderia passar”. Aprendeu muito com a disciplina militar e teve a possibilidade de aprender a tocar corneta e fazer parte da banda do Instituto. O entorno da “escola” foi tão favorável a Louis que ele não quis abandonar o lugar mesmo quando seu pai ganhou o direito de custódia. Depois da adolescência Amstrong começou a tocar com grupos locais e com a emigração dos melhores nomes de Nova Orleans para Chicago, a cidade abriu um novo mercado para jovens músicos que queriam sua primeira oportunidade.
Sua reputação como cornetista foi abrindo passo além das fronteiras de Storyville e depois de se apresentar em todo o circuito da cidade , Nova Orleans foi ficando pequena para o talento de Amastrong. A primeira chance de dar um salto foi com o convite de King Oliver para ser a segunda corneta da mítica Creole`s jazz band.( ver capítulo anterior). Como dizia o crítico e historiador Ted Gioia, “(....) a diferença do jazz posterior ( que Louis seria o inventor), com sua democrática fé nos solos individuais, os pioneiros de Nova Orleans criaram uma música em que o primordial era o grupo: dentro da banda, cada instrumento devia desempenhar um rol específico e não afirmar sua independência. O momento mais característico dessa música é quando os instrumentos principais – a corneta, o clarinete e o trombone – entravam em um espontâneo contraponto.” O trombone aparecia sempre com um registro inferior (como se fizesse o papel do baixo), o clarinete apresentava figuras mais complexas e a corneta se movendo no registro intermédio, tocando melodias menos elaboradas que o clarinete. Seguindo as pistas do crítico Ted Gioia e vendo com os olhos críticos que o tempo nos permite, esse jazz possuía um vocabulário melódico primitivo; King Oliver – o “padrinho” artístico de Amstrong – se limitava a combinar sua corneta com o resto do grupo, sem a aventurar em solos improvisados. Percebemos hoje, que a banda de Oliver não seria o lugar ideal para um músico com a imaginação melódica e a técnica de Louis Amstrong.
No próximo capítulo, seguimos com a trajetória desse gênio.

Nenhum comentário: