segunda-feira, setembro 08, 2008

[arte] Duchamp, Man Ray e Picabia

Retrato readymade, os primórdios da interatividade:
Duchamp assinou este espelho de forma
que, quando o espectador se coloca diante dele,
cria uma obra, um retrato com sua firma.

Fui com Michel, este fim de semana, ver a exposição sobre esses três artistas que o Museu Nacional de Arte da Catalunha (Mnac) organiza com a Tate aqui em Barcelona. Gostei demais. 1. porque é uma exposição bastante completa, que reuniu algumas das obras mais importantes deles 2. porque está superdidática, com textos explicativos sobre como a amizade entre os três influenciou suas obras e 3. e mais importante, porque eles são geniais!!

Não vou dizer aqui que Duchamp e Man Ray são dois dos artistas mais transgressores do século passado, encabeçando as grandes vanguardas artísticas que mudaram os rumos das artes plásticas para sempre. Isso todo mundo já sabe. Mas foi lindo ver de onde saíam essas idéias. E como eles se divertiam trabalhando, colocando suas loucuras em prática. Emociona ver a incansável busca por seguir rompendo com padrões mesmo depois de já ter chocado o mundo tantas vezes (basta lembrar do escandaloso urinol de Duchamp).

Marcos do dadaismo: um objeto pré-construído com
status de obra de arte e a Mona Lisa "vandalizada"

Picabia foi o que, artisticamente, me empolgou menos. Mas, lendo o catálogo, não pude deixar de me sentir imensamente atraída pela sua personalidade. O próprio Duchamp assume que foi a amizade com Picabia, os intermináveis encontros e freqüentes diálogos recheados de filosofia os grandes responsáveis pela sua postura contra-padrões diante do mundo artístico.

Para uns foi um ato de rebeldia. Para outros, um passo atrás:
Picabia, no auge dos movimentos vanguardistas,
usou imagens da pintura clássica e sobrepôs com figuras modernos.

Picabia era um playboy fanfarrão. Bonito e rico, pouco se importava com o reconhecimento (coisa que tinha, inevitavelmente). Esse desdém com o mundinho artístico e com a necessidade comercial inspiraram Duchamp (que por sua vez inspirou Man Ray) durante toda sua carreira.

Duchamp era um rebelde, queria estar fora de qualquer movimento (apesar de ser considerado o pai do Dada) e etiqueta. Nos últimos anos de sua vida, chegou a "deixar" a vida artística. As aspas são porque, na verdade, ele nunca deixou de produzir arte, apenas se afastou do meio. De fato, uma de suas obras mais importantes e inovadoras foi uma que se conheceu depois de sua morte e que ele levava mais de 20 anos elaborando, Etant Donnés.


Man Ray também não nega a grande influência que a amizade com os franceses teve em seu trabalho. Os objetos readymade de Duchamp (como o já citado urinol e a famosa roda de bicicleta) são contemporâneos a seus "objetos de afeto" (como ele os chamava). Estas obras eram compostas por dois ou mais objetos pré-fabricados que, juntos, formavam um novo.

Auto-retrato de Man Ray: Duchamp era obcecado pelos trocadilhos.
Aqui, Man Ray entra no jogo e usa sua mão como assinatura da obra,
jogando com seu nome e a palavra "main" (mão, em francês)

Mais tarde, começou a experimentar com técnicas fotográficas, modalidade pela qual ele é mais conhecido. Também arriscou com o cinema sem chegar a ficar satisfeito com o resultado de seus filmes.


O informativo da exposição faz um resume muito claro da visão que os três artistas tinham do trabalho que realizaram ao longo de suas vidas: "Picabia se tornou cada vez mais cínico em relação ao mercado, enquanto Man Ray tinha a sensação de não ter recebido a devida atenção crítica que sua obra merecia. Duchamp, satisfeito com manter-se à margem, preferia ficar na candestinidade".

Quem estiver por Barcelona deve ir ver esta exposição. É uma aula de vanguarda. E emocionante ver a sólida amizade entre os três artistas. E como - talvez como em nenhum outro caso na história da arte - este relacionamento impulsionou carreiras e criações tão brilhantes.

4 comentários:

Zócrulos disse...

Gostei bastante, vou perambular por lá.

Anônimo disse...

corre galera, porque o trem tá passando...

Chica X disse...

a amizade entre os três é realmente o ponto alto da expo, belíssima e necessária. mas o picabia pra mim foi a grande surpresa! genial!

Puc-a-poc disse...

Bem interessante. Espero chegar à tempo de ver a exposiçäo.