quinta-feira, maio 22, 2008

[Cine, Séries] - 25 anos sem Fassbinder - "Viagem a Niklashausen"



Aproveito o embalo de “Maio de 68” para comentar “Viagem a Niklashausen” - quarto filme dirigido por Fassbinder no ano de 70.
Carregado de imagens alegóricas e personagens “messiânicos”, o diretor alemão alude a diversos movimentos revolucionários ao longo da História; o mesmo maio de 68 em Paris, os Panteras negras e as revoluções socialistas abortadas no terceiro mundo.
É um filme difícil , sem uma estrutura de narrativa definida e repleta de personagens verborrágicos. Fassbinder rompe com qualquer interpretação naturalista, tudo o que se diz é “discursivo” e “retórico” – depois de uma hora de projeção o espectador pode se ver incomodado.
A película inicia com a estória de um Pastor que proclama ter visto a Virgem; nesse encontro, a Imaculada pede ao jovem que mobilize uma revolução contra as autoridades políticas vigentes. O Pastor consegue reunir 50 mil fiéis que o identificam como o “Novo Messias” e ganha uma série de assessores ao longo de suas peregrinações; uma jovem camponesa, um suspeitável homem de jaqueta negra (interpretado pelo próprio Fassbinder) e o misterioso Antonio – personagem inspirado no mesmo “Antonio das Mortes” de Glauber Rocha.
Os dias de rebelião não vão longe; o Bispo local decide abafar o movimento e condenar o jovem religioso a fogueira. O próprio povo não está preparado para a luta e desiste da revolução.
Mergulhado em alegorias e teatralidade, “Viagem a Niklashausen” relata os perigos que uma revolução pode causar ao seus próprios criadores; a vaidade ou o excesso de utopia podem cegar seus líderes e levá-los para longe da realidade. E uma simples viagem a Niklashausen pode se tornar uma viagem a lugar nenhum.

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