Há exatos 40 anos, o que parecia uma de tantas simples manifestações estudantis em Paris, desencadeou o que veio a ser a mais significativa revolução popular do século XX.
Descontentes com a disciplina rígida, os currículos escolares e a estrutura acadêmica conservadora, estudantes da Universidade de Nanterre, na capital francesa, começaram uma série de protestos e a ocupação do campus, apoiados por professores progressistas.
A decisão da reitoria de fechar a faculdade, em 3 de maio, levou a Sorbonne abrir as portas para os alunos de Nanterre. O autoritarismo com que o governo de Charles de Gaulle perseguiu os estudantes, fechando a Sorbonne, fez com que ganhassem o apoio de outras classes sociais.
O que estava implíscito nessa revolta e que talvez explique todo o movimento de Maio de 68 é que a verdadeira razão de tal insatisfação não estava no atraso das universidades. O que esses estudantes e professores pediam não era simplesmente uma uma adaptação acadêmica às necessidades sociais da época. Para eles, quem deveria adaptar-se aos novos tempos era a própria sociedade moderna, com seu modo de vida trivial e burguês, reprimido e repressor.
Influenciados pelos estudantes, operários de Paris iniciaram protestos, ocupando fábricas e organizando passeatas e greves. Também os trabalhadores exigiam modificações, também eles achavam que o sistema que não respeitava as jornadas laborais, as aposentadorias, e as férias, entre outras coisas, deveria mudar radicalmente.
Não demora muito para novas classes se unirem aos protestos e surgirem as barricadas. E o que começou como uma greve de estudantes, agora era uma clara contestação política ao regime gaulista. Está aberta a porta da revolução. Chega a era do "É proibido proibir". Até que, em 10 de maio, estoura o maior confronto entre os grevistas e a polícia até o momento. De Gaulle ordena que a revolta seja varrida das ruas a qualquer preço.
Os policiais lançam bombas de gás lacrimogêneo, respondidas com pedras e outras armas improvisadas pelos jovens, episódio que ficou conhecido como "A Noite das Barricadas". Nos dias seguintes, continuam as manifestações, e cerca de 150 carros são danificados ou incendiados.
Paris, com o calçamento revirado, vidraças partidas, postes caídos e carros incendiados, assumiu ares de cidade rebelada. No alto das casas e prédios tremulavam bandeiras negras dos anarquistas. De 18 de maio a 7 de junho, 9 milhões de franceses declararam-se em greve geral. A princípio, o governo francês fica paralisado. Mas a situação é controlada no final de maio, com violenta repressão. No total são mais de 1,5 mil feridos.
O movimento de Paris foi só o estoupim para uma "guerra" que esperava na sompra para estourar em muitos outros países. Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Suíça, Dinamarca, Espanha, Reino Unido, Polônia, México, Argentina e Chile vêem seus estudantes e trabalhadores seguirem o exemplo e ir às ruas protestar contra a situação do pós-guerra, as guerras e as ocupações imperialistas. Os hippies estadounidenses pedem o fim da Guerra do Vietnam.
No Brasil há manifestações estudantis contra o Regime Militar de 1964 e a reforma universitária proposta pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 1967, que adota o modelo norte-americano de educação.
Pode-se dizer que a conturbada década de 70 foi em parte produto das manifestações que começaram naquele campus em Paris. Na crista da onda das transformações, surgem nomes nas artes e nas academias que viriam a influenciar os jovens e mudar para sempre os códigos de comportamento dentro da sociedade.
Em Paris, não podemos deixar de citar os estudantes que lideraram os protestos de maio: Alan Geismar e Jacques Sauvageot, Daniel Cohn-Bendit ou "Dany le rouge", famoso por sua cabeleira vermelha.
No mundo da música, emergiam as "estrelas rebeldes". Jimi Hendrix, Janes Joplin, Lennon e cia. cantavam pedindo paz, mas embalados pelo LSD e vestidos de maneira "escandalosa" para a época. As danças, o figurino e o comportamento desses ídolos, indo em contra da ideologia burguesa não hesitaram em entrar na vida da juventude de então.
Talvez seja a primeira vez na história em que grande parte do mundo tenha lutado junta, usando os mesmos métodos e pelos mesmo objetivos. Falando de uma forma genérica, os trabalhadores reivindicavam melhores salários e revisão das leis trabalhistas; os intelectuais, mudanças radicais nas estruturas sociais; e os estudantes, uma reforma mais democrática do ensino.
Em parte, o movimento sustentava–se na tese da “nova esquerda”, desenvolvida por Marcuse – onde não só o proletariado, mas os jovens e excluídos da sociedade burguesa também eram considerados força de transformação da história. E realmente, no século XX não se tem notícia de outra revolução que tenha causado tantas mudanças nos costumes, na cultura e nas artes como o Maio de 68.
domingo, maio 18, 2008
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3 comentários:
Parabéns a todos pelos dois anos!! E melhor ainda com o texto sobre Maio de 68!! Vale conferir "The dreamers" de Bertolucci - nao tanto pela obra cinematográfica em si mas pela trilha sonora!
Beijo!!
opa... valeu pela dica!
Vi essa charge e achei bastante apropriada (ainda que tarde)
http://www.conexaoparis.com.br/wp-content/uploads/2008/05/mai.jpg
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