Agora eu queria dar um nó nas idéias da turma. Se não nas idéias, pelo menos no orgulho nacional.
Tudo isso que pregamos (no post abaixo) como câncer da nossa sociedade infelizmente(?) é também a causa de tudo o que mais nos orgulha da nossa cultura.
Em conversas com meu brother, músico, jornalista e nômade, Arapuca, acabávamos concluindo sempre que o que de mais bonito temos na nossa música, futebol ou alegria de viver está de alguma forma relacionado à “Lei de Gerson”.
O objetivo é análogo: driblar. Passar o outro para traz, com estilo e malemolência e, se possível, dar uma zoadinha depois. É a sensação de ser o esperto, o bom.
Para mim, isso é um exemplo de que no mundo as coisas não são independentes umas das outras. Tá tudo inter-relacionado! Uma cadeia de influências.
O mais curioso é o poder dessa cultura brasileira. Capaz de gerar coisas tão cruéis e egoístas. E por outro lado, tanta beleza, sensibilidade e diversão.
Que bacana seria poder associar "malandragem" somente a diversão.
E que venham as discórdias!!!
p.s.: prometo uma leitura de Casa Grande e Senzala e Raízes do Brasil pra breve. Pra ver se não fico só nessa superfície.
quinta-feira, agosto 16, 2007
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10 comentários:
Esse assunto parece ateh uma aula do Jesser, malandragem é tão brasileira que você não consegue explicar o conceito para nenhum estrangeiro, vc sempre tenta explicar por partes, primeiro o lado bom e depois a lado ruim. Mas quando saber se eh bom ou ruim? Será que é bom só para nós brasileiros que já estamos acostumado com a bagunça, o oba oba de sempre, e não fazemos nada pra mudar, e ao invés disso, preferimos escrever um samba sobre o assunto e aí vira logo piada e todo mundo acha graça, e realmente eh engraçado, mas ao mesmo tempo é punk de engolir. Acredito que o benefício da malandragem para o brasileiro é a forma de saber se virar em situaçoes adversas, de ter o jogo de cintura que poucos tem, mas sem necessariamente tirar proveito mas infelizmente, ou felizmente, a malandragem do brasileiro esta no sangue e no Brasil eh melhor ser malandro do que honesto, pois honestidade pra brasileiro eh coisa de otário, como jah dizia Bezerra, malandro é malandro, mané é mané.
acho que tanto o 9h como o antonio tocaram no ponto chave da discussao: encontrar o equilibrio da coisa. e bem verdade que ter jogo de citura e algo fundamental e uma questao de sobrevivencia em um pais onde as condiçoes de vida sao tao precarias para uma maioria tao esmagadora. Mas acho que tem uma linha tenue que separa jogo de cintura e flexibilidade de principios. acho que o que falta para a gente e saber por limite a nos mesmo, saber defender nossos principios nao so quando se trata dos problemas dos outros, mas quando se trata de nos mesmos tambem. nao vale defender a ideia de que o pais tem que deixar de ser corrupto, que a impunidade e uma vergonha e, na hora de levar uma multa notransito, oferecer um por fora para se livrar do preju, ou tomar um preju menor. e uma questao de tentar nao alimentar a roda desde as atitudes mais simples.
Maneiros os textos, Mitch Mitchel. É sempre importante que haja esse tipo de reflexão essa cultura brasileira da malandragem. Concorco com a Nina, quando ela diz que existe uma "linha tênue que separa jogo de cintura e flexibilidade de princípios". Abç. Pinduca
Parabéns pelos posts! Na minha opinião, existe uma linha tênue que separa a ginga, do drible. Nem todo drible tem ginga, nem toda ginga tem drible. Acho que aquilo que admiramos, nesse "ser" brasileiro, está na beleza da ginga e não do drible. A lei de gérson é um drible que não tem nada de ginga. A lei parece com a ginga, em muitos momentos estão juntos, confundem, mas não são a mesma coisa pra mim. O estilo e a malemolência estão na ginga, na passagem pra trás na esportiva, na capacidade de voltar e tomar uma cerveja com o "perdedor", que só perdeu o momento, o jogo. Esse é o brasileiro do povo, da cultura, que vemos no futebol, na música e na rua. O malandro que usa a lei de gerson pra se dar bem e prejudicar o outro, não pode usar o poder encantador da ginga brasileira pra ganhar moral.
Mas infelizmente tenho que concordar que as coisas não conseguem ser independentes no dia a dia do brasileiro. Acaba tudo tendo inter-relação e sendo uma cadeia de influências, bem dito. Aí, antes da cerveja, durante e depois dela, não vemos a linha tênue que separa o drible da ginga.
Aí admiramos um pedaço que parece com o outro, mas não é.
Espero não ter piorado o nó.
Saudades Michel! Grande Abraço
Acredito na lei do empedimento de maus costumes... entre a ginga e o drible nao pode haver a jogada desleal nem tomada de bola nas costas. E com tanta virada de mesa o campeonato vai ficando mais desprestigiado e os craques se vendem ao mercado estrangeiro.
A torcida tem que gritar ABAIXO CARTOLAGEM!!!
KIKO, apaixonado pelo futebol e pelo Brasil
acho que a discordia me fez pensar um monte...
LEI DE GERSON, faz a gente acreditar que o "bom malandro" eh o "bom partido", essa nao seria a politica do rouba mas faz, estupra mais nao mata e outros absurdos que ouvimos e viraram piadas?
Fala, moçada. Legais os comentários. Demorei em comentar porque estava sem Internet.
Penso que cada manifestaçäo cultural popular é em si uma alegoria de valores e traços de uma sociedade. No caso do Brasil, todas säo permeadas pela mesma característica: a malandragem. Está a raíz de tudo de melhor e de pior que temos em termos culturais. Isso desde expressöes como o samba e a capoiera até, infelizmente, a corrupçäo. Ao mesmo tempo que o espirito malandro é a base para as elegantes melodias de Pixinguinha, é também para os duvidosos recibos de Renan Calheiros.
Brasil é a soma de constante catarse emocional mais batalha por sobrevivencia que é igual ao “te vira malandro”, ao “cada um por si”. Näo é por nada que o grande mérito dos jogadores de futebol brasileiros é na jogada individual. Jogar junto já é algo mais problemático. E aí está nosso grande problema: o individualismo.
A malandragem faz parte de nossa formaçäo. O saudoso programa televisivo "Os trapalhöes" é um boa caricatura disso. O esquema era levar vantagem. Didi, Dedé, Mussum e Zacarias eram, mais que nada, bons malandros. Ou seja, autênticos brasileiros. Representam a força da jogada individual, do improviso, da idéia de se dar bem. Isso fica bem simbolizado pelo gesto realizado por Didi em que, com muita malícia, passava a mäo na boca, piscava um dos olhos e batia um dedo contra outro em sinal de "levei a melhor".
Os quarto personagens eram mulherengos, sendo a mulher abordada como objeto sexual. O esquema era “pegar todas”, nada de fidelidade, mulher bonita näo tinha dono. O dominical deixava claro também o preconceito racial presente na sociedade. Em alguns quadros Mussum sofria tratamento diferenciado ao que logo contestava com frases como: "só porque eu sô pretis, cacildis?". Bom, esse já é tema para outro texto.
De qualquer forma, malandragem é um patrimônio. Tem de ser valorizada. Como comentamos inicialmente, está em tudo de bom que temos culturalmente. Nao temos que reprimí-la. Brasil é, acima de tudo, emoçöes à flor da pela. É esse é nosso grande diferencial.
Só que temos de aprender a lidar com com essa característica da melhor forma possível e a organizarnos. O primero passo, como nos Alcóolatras Anônimos, é admitir (todos) que existe um grande problema: näo somos unidos. Näo falo de churrascos de domingo com toda a moçada. Tenho a impressäo de que existe no Brasil a falsa idéia de que somos um país unido porque torcemos juntos na Copa do Mundo, estamos juntos nas rodas de samba, .... Falo de uniäo na organizaçäo social. Claro que tem muita gente boa no país, muita mesmo. Tem aquele que te hospeda em casa sem te conhecer bem, mas isso também é uma jogada individual.
É preciso aprender como se organizam outros países, mas sem querer simplesmente imitar. O Brasil precisa encontrar por si mesmo uma forma de diminuir as diferenças sociais a partir de suas próprias características. Se o Brasil fosse täo organizado como a Alemanha näo seria Brasil, sería Alemanha. Näo se pode esperar isso.
A grande organizaçäo dos alemäes faz com que seu sistema social funcione muito bem. Por outro lado, qualquer situaçäo cotidiana que exija um pouco de criatividade, improviso, transforma-se em um problema porque "näo está escrito no manual". Já improvisar é especialidade do brasileiro, é forma de sobrevivência. Precisamos direcionar essa virtude para benefício de toda a sociedade brasileira e näo individual.
Os países do velho mundo, principalmente os do norte da Europa, chegaram a um ponto de organizaçäo conjunto – sendo a Suécia um grande exemplo de sistema que prioriza o bem estar social – que as emoçöes parecem que ficaram atrofiadas ou, pelo menos, reprimidas. Na maioría dos países europeus, principalmente do norte, arte popular é só algo antigo que se recorda em datas comemorativas somante para se "manter a tradiçäo".
Em algum momento esses países europeus, imagino, também viveram sua cultura popular mas intensamente, mas a preocupaçäo pelo trabalho conjunto se concretiza em sua atual realidade: organizada só que mais fria. Já no Brasil, a cultura popular näo é só lembrada (também nem temos tanto tempo de história mesmo), é vivida. Como sintetizou esses dias o grandioso amigo Eduardo "a Europa vive do passado".
Näo podemos continuar com o pensamento "Garanto o meu e o outro que se vire".
Te liga Malandro, mas sem perder o sapateado!
Abraço a todos. Saudades!
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