terça-feira, junho 12, 2007

[Cine] Série Paul Morrissey, parte I - Trash


Um apartamento qualquer em Nueva York; uma dançarina insinua uma felação em um junky, a câmera abusa dos planos-detalhe da bunda do rapaz e a conversa gira em torno de nada. Ela se desnuda e baila para ele, mas o cara não quer sexo. Só heroína. Outro plano sobre a bunda do indivíduo, mais uma tentativa de consumar a cópula, outra conversa sem sentido. Fim de cena.

Assim começa “Trash”, filme de Paul Morrissey produzido por Andy Warhol lançado pela Factory em 1970. Joe Dallesandro interpreta “Joe”, - o junky - e Holly Woodlawn interpreta a si mesma, um travesti enganchado na droga que vive num apartamento repleto de lixo. Lixo que ela recorre todos os dias para mobiliar a casa, lixo que preenche o vazio e atenua o desespero dos dois. “Haverá guerra?” pergunta um personagem, “ que importa?” responde Joe. Ele segue pelas ruas de Nova Iorque em busca de outro “shot” e o repertório de personagens e suas bizarrices é infinita; os diálogos são longos e em certos momentos inacreditáveis.

Destaque para a atriz e suicida Andréa Feldman – que interpretaria a mesma esquizofrênica em “Heat” (1972) – como uma alucinada menina bem-nascida em busca de ácido que despeja fluxos verbais aleatórios e histéricos. Andréa se mataria um pouco antes da estréia de “Heat” mas isso é outra história.

Lou Reed imortalizou em música e verso esses dois personagens em “Walk on the wild side”. A letra retrata exatamente o universo fílmico/real de Joe Dallesandro e Holly Woodlawn. Ele, garoto de programa e habituè do underground Nova Iorquino, figurou em um casting de Morrissey para Factory e daí protagonizou todos os filmes do diretor tornando-se um ícono gay; ela, nascida Haroldo Santiago Rodriguez, “fugiu” aos 15 anos de Miami para Nova Iorque e sua saga é bem conhecida pela canção do legendário músico nova-iorquino.

O filme valeu à atriz uma campanha do renomado diretor George Cukor para uma indicação ao Oscar em 1970. Nessa época o sonho não só tinha acabado como havia virado lixo.

Próximo capítulo, “Heat”.

2 comentários:

Nina Guimarães disse...

punk!! Márcio, tu sabe se existe algum lugar onde a gente pode baixar esses filmes? Porque em locadora é impossível, imagino...

Anônimo disse...

Ahhhhh, sim! Agora tá explicado.