Já não basta ser um por vez. O negócio agora é de lote. Ou seja, TuCasa embala nas séries. Nina começou uma sobre o cineasta John Cassavetes e já está no terceiro post. Agora o jornalista, músico e otoridade Márcio Menezes nos presenteia uma série sobre o Jazz. Começando pela história, ele nos propõe falar do mais complexo estilo musical de maneira simples e didática. Para que todos possam entrar um pouquinho nessa música tão cultuada e, ao mesmo tempo, difícil de entender. Segue o grande Amic Meu:
Breve História do Jazz (1) - O Holocausto Negro
Por Menezes
Por Menezes
Para começar a escrever “Uma breve história do Jazz”, recorro ao bom e velho Jorge Luis Borges que ao escrever a “História Universal da Infâmia” nos brindou com o seguinte parágrafo: “Em 1517 o Padre Bartolomé de las Casas teve muita pena dos índios que se extenuavam nos trabalhos infernais das minas de ouro das Antilhas e propôs ao imperador Carlos V a importação de negros”.
Mais que infame, é criminoso e a história mais de uma vez se apresentou com esse traje, geralmente branco e bem passado, a custo do sangue alheio. Não se pode contar a Historia do Jazz sem antes falar do “Holocausto negro”, ou seja, da vinda de mais de dez milhões de escravos oriundos da Mãe-Africa para a América entre os séculos XVI e XIX. Destes, um milhão e meio encontraram a morte no meio do caminho, em barcos inundados de peste, epidemias, fome e violência por parte do homem branco; quatro milhões chegaram em solo brasileiro onde foram trabalhar nas minas e no campo; e outros seis milhões e meio foram divididos entre diversos países americanos.
Nos Estados Unidos várias etnias e culturas distintas – antes separadas em seu continente de origem – como a yoruba, dahomeyanos, senegalesa e ashantis, se vem juntas em um mesmo campo de plantação de tabaco e algodão, onde trabalhariam exaustivamente. Além das humilhações cotidianas, os escravos estavam proibidos de falar alguns dos seus dialetos nativos, além de terem confiscados todos os seus instrumentos e estarem privados de qualquer manifestação cultural que denote sua origem, pois assim se evitaria a formação de grupos ou núcleos que sugerissem possíveis revoltas.
Nas regiões onde a colonização britânica atuava, a repressão era maior que em áreas onde os donos de terra eram franceses ou espanhóis. Em uma dessas localidades – mais precisamente em Nova Orleans – os escravos gozavam de certos “privilégios” onde podiam dançar e cantar, coisas que os ingleses nunca admitiam. Nova Orleans foi “anexada” aos Estados Unidos da América quando o estado de Luisiana foi comprado em 1803, de maneira que pôde reter seu caráter europeu mais do que qualquer outra cidade americana. Era ali onde os escravos tocavam tambores em louvor ao dia de São Patrício, onde os negros cantavam com liberdade nas construções de estradas de ferro, onde rituais católicos e africanos se fundiam e onde o mundo iria ver o surgimento de uma das expressões artísticas mais originais do planeta: o JAZZ.
3 comentários:
Ai, ânsia!! Capítulo 2!! Capítulo 2!!
Opa. To aqui na expectativa do 2º capítulo também. A introduçao já deixou na instiga. Manda ficha professor!
Boa, Márcio... Muito bom o texto... Imagino que essas primeiras manifestações musicais dos negros em terras americanas fossem mais voltadas para o aspecto místico-religioso mesmo, já que ainda estariam impregnados das referências da terra natal: oração, celebração, louvação aos deuses etc. E penso como era o contato artístico entre negros de tribos diferentes, inclusive inimigas, forçosamente condenados a dividirem o mesmo espaço. O momento em que se tornou um gênero livre dessas referências deve ter sido curioso: o contato com instrumentos de corda e sopro harmônicos e suas metodologias de estudo ocidentais, a música para ser apreciada pela capacidade de improvisação e sentimento do músico, não apenas para ser cantada e dançada, a música livre das temáticas amorosas e religiosas específicas que iriam originar o blues e o gospel...
E que venha a Segunda Parte!
Postar um comentário