O Canto Negro Chega à Igreja
As jornadas nos campos de algodão e nas construções de ferrovias em paisagens pouco habitadas eram duras e longas. Mas os negros – seja por instintivamente manter sua cultura ou somente para dar um caráter lúdico ao trabalho – cantavam e improvisavam melodias. Um escravos começava uma frase cantada e os demais repetiam. Um outro emendava com mais um canto e todos seguiam.
Dessa forma eles passavam o tempo e liberavam todo o sentimento de dor, sofrimento e saudade da Mãe-África. Essa prática começou a chamar a atenção dos pastores evangélicos que tinham a missão de catequizar a massa de negros pagãos. Pois os predicadores perceberam semelhanças entre a oralidade dos canto africanos e as técnicas de algumas congregações religiosas Britânicas. Se os escravos cantavam, como foi descrito acima, o conhecido “chamada e resposta”, na Inglaterra os fiéis repetiam a cada duas linhas as palavras lidas pelos padres nos sermões de domingo.
Durante o processo de “cristianização” dos escravos, os negros não somente assimilaram a idéia de uma nova religião como também aportaram ritmo e melodia às canções religiosas já existentes. Essa prática de “louvar ao Senhor” teve muito êxito e começava a ser aceita nas igrejas e por segmentos da sociedade na segunda metade do século XIX.
Alan Lomas, um dos pioneiros do estudo e da preservação da música afro-americana, diz: “os negros haviam africanizado os salmos a tal ponto que muitos observadores descreviam os hinos de igreja dos negros como uma misteriosa música africana. Em primeiro lugar prolongavam e faziam vibrar os textos dos hinos que só um anjo podia decifrar o que se cantava.(....) Surge um grupo em que todos os cantores podem improvisar juntos, contribuindo cada um com algo pessoal a um constante efeito coletivo, uma prática habitual nas tradições africana e afro-americana.”
Segundo críticos e historiadores de jazz, os escravos africanos tinham uma tradição musical tão sofisticada quanto a do Ocidente porém desenvolvida em uma direção diametralmente oposta. Onde os europeus priorizavam a harmonia, os africanos haviam focado o ritmo.
P.S.: Devido a contratempos meus e do 9h, demoramos um pouquinho pra publicar este 2º capítulo da Breve História do Jazz. Mas a idéia é publicar um a cada domingo, sempre que possível. Um abraço a quem curtiu!
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